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Artigo Número 3 - Trimestre Julho/Agosto/Setembro/2000:

A POLÍTICA FEMININA

No mundo "Ideal"


Existe a idéia de que só através do atuar político se pode modificar a realidade. Neste sentido o atuar da mulher sempre foi inexpressivo. Portanto, para introduzir a mulher como um elemento político, capaz de influir decisivamente na realidade e transformá-la, precisamos antes de alguns esclarecimentos.

Acostumamo-nos ao ideário masculino na política; às ideologias do proletariado, burguesas, socialistas, liberais e outras, representativas de classes trabalhadores, elites e outros compartimentos da sociedade; partidos políticos representativos de interesses especificados e diversos, mas nunca representativos politicamente do feminino, ou do mundo da mulher, embora, sintomaticamente, nas últimas décadas esta problemática tenha começado a se modificar.

O mundo feminino permaneceu sempre afastado da política, como um mundo essencialmente caseiro, familiar e como tal, mais no âmbito dos sentimentos, da fantasia e que mais se serve da imaginação que da prática política. Tal como a natureza, que só recentemente passou a ser representada pelos movimentos políticos ecológicos. Também como a natureza a mulher foi inexorável e constantemente explorada ao longo da história, independentemente de regime político, crença religiosa ou sistema social.

A mulher e a natureza sempre fizeram parte de um mundo "ideal", de um mundo belo, feito de promessas de felicidade e prazer, mas sempre no mundo do imaginário; no ambiente onde prevalece uma consciência não real. Sempre exploradas, sem limites, mulher e natureza, nunca foram consideradas "econômicas". A mulher menos ainda que a natureza. Os recursos naturais, as terras, foram quantificados e remunerados ao servirem como fator de produção; o trabalho imanente à natureza feminina não. A mulher trabalhadora sim, mas como fazendo parte da massa de trabalhadores, ou seja, fator trabalho na produção e não como mulher.

Rosalind Miles diz em "A História do Mundo pela Mulher": "A visão de uma mulher amamentando um bebê, mexendo uma panela ou limpando o chão é tão natural quanto o ar que respiramos". Logo, sem valor econômico, sem valor de troca, exatamente como o ar que respiramos. Marx, indiretamente, completa muito bem esta idéia nos prolegômenos de sua poderosa teoria do valor: "Qual é a substância social comum a todas as mercadorias? É o trabalho. Para produzir uma mercadoria tem-se que inverter nela, ou a ela incorporar, uma determinada quantidade de trabalho. E não simplesmente trabalho, mas trabalho social. Aquele que produz um objeto para seu uso pessoal e direto, ou seja, para seu consumo, cria um produto, mas não uma mercadoria. Como produtor que se mantém a si mesmo, êle nada tem com a sociedade. Para produzir uma mercadoria é diferente .Tem de criar um artigo que satisfaça uma necessidade social qualquer e o trabalho nele incorporado deverá representar uma parte integrante da soma global de trabalho invertido pela sociedade".

Qual é portanto, a essência do que diz Marx? Simplesmente que o trabalho feminino não é social, embora seja trabalho - e quanto!, cozinhar, limpar, amamentar e tudo o mais que seja - não gera bens e serviços, ou seja, mercadorias. Como trabalhadora para si mesmo, seus filhos e marido: "nada tem com a sociedade". Eis a redução da mulher no interior mesmo da teoria do valor. E mais: o trabalho da mulher "não satisfaz uma necessidade social" e nem representa "uma parte integrante da soma global de trabalho invertido pela sociedade". O trabalho feminino, essencial,fundamental,vital,mas sem valor econômico é pois, autônomo e é dessa maneira que êle deve ser incorporado à política.




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